SALVO NA ÚLTIMA HORA

Quem assistiu a última versão de Star Wars viu um Luck Skywalker que aparece de repente e salva todos. Mas isso acontece na vida real ou só em filmes?

Claro que alguns acontecimentos da vida pessoal parecem mandamentos do destino, como se os anjos viessem te salvar a mando de Deus no último momento. Quem quiser pode contar as peripécias de salvamento de última hora.

Enquanto os leitores não interagem, mando duas histórias de salvamento de última hora na perspectiva histórica.

Retiro as duas passagens da expedição de Martim Afonso de Souza à América.

Como é de conhecimento geral, Portugal tinha problemas com os franceses que passavam pelas paragens brasileiras para pegar peles de onça, plumagens e pau-brasil. Qualquer navio português devia apresar navios franceses nos mares do Brasil. 

Quando a esquadra de Martim Afonso chegou na costa brasileira, logo de cara enfrentou embarcações do nobre da normandia com bandeira francesa. Certos de que não mais se deparariam com a ameaça francesa, um dos barcos sob o comando de Pero Lopes de Sousa (irmão de Martim Afonso) foi mandado para o sul de Pernambuco, ao passo que o restante da esquadra rumou para norte.

Em 2 de fevereiro de 1531, o navio de Pero Lopes encontrou novo navio francês. Iniciou-se a batalha (batalha marítima de Santo Agostinho), após tiros de canhão entre os navios, os portugueses pareciam sem esperança e diante de uma derrota iminente viram surgir Martim Afonso de Souza com os galeões São Miguel e São Vicente e a nau tomada dos franceses na batalha anterior.  De derrota certa a vencedores, o fator inesperado de alteração de rumo da esquadra principal salvou o futuro capitão hereditário  de Santo Amaro - de Bertioga a Juqueriquerê - e Santana - de Laguna à Ilha do Mel.

Na mesma missão, Martim Afonso de Sousa rumou para o atual Rio da Prata, ainda não detalhadamente explorado. Novamente, a esquadra foi dividida para melhor explorar a região. 

Como o mundo prega peças, um dos navios afundou nos arredores da atual Punta del Este, o do próprio Martim Afonso, e os náufragos conseguiram chegar à costa do Uruguai. Mas como retomar a missão ou voltar para casa sem uma embarcação? Após reunirem-se os sobreviventes, acharam na praia um bergantim (ver http://cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/c05.html ), navio que combina remos e vela, inadequado para navegações oceânicas, ideal para viagens costeiras e de rios construída durante a expedição de Sebastião Caboto (capitão a serviço da Espanha), abandonada por não se conseguir levá-la de volta para a Espanha. Novamente, em terras praticamente inexploradas, os poucos vestígios de europeus foram suficientes para que Martim Afonso retomasse a missão, reunisse a esquadra, mandasse seu irmão para a exploração do Rio da Prata e, após, voltasse para São Vicente na costa luso-brasileira.

Qual a probabilidade de encontrar um navio em bom estado em meio de terras desconhecidas? O mundo cria dificuldades e também as soluções. 

Então, o salvamento inusitado ou de última hora não ocorre só nos filmes. 

Bibliografia e Sugestão de Leitura:


BUENO, Eduardo. Brasil: Uma História - Cinco Séculos de um País em Construção, São Paulo: Leya, 2000, p. 46. 

____________. Capitães do Brasil: A Saga dos Primeiros Colonizadores, Rio de Janeiro: Objetiva, 1999, pp. 53 e 54. 

COSTA, Keilla Renata. "Sebastião Caboto"; Brasil Escola. Disponível em http://brasilescola.uol.com.br/biografia/sebastiao-caboto.htm. Acesso em 29 de janeiro de 2018.

DONATO, Hernani. Dicionário das Batalhas Brasileiras, 2a Edição, Revista, Ampliada e Atualizada, São Paulo: Ibrasa, 1996, p. 507.

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