POR QUE ESCOLHEMOS O CANDIDATO "MENOS PIOR"* NAS ELEIÇÕES?

Pela luta de muitos, temos no Brasil e no Ocidente, em geral, a democracia com sufrágio universal. O sufrágio universal significa que, fora poucas pessoas (menores de idade, idosos em elevada idade, estrangeiros, suspensos de direitos políticos), a esmagadora maioria das pessoas concorre e participa do pleito político. Se todos participam, todas as classes sociais, segmentos econômicos, ramos de ONG´s, bairros e comunidades vão influenciar na escolha do governante.
O que devemos discutir agora é o que acontece nas eleições majoritárias quando todas as classes sociais e grupos de interesse participam do pleito eleitoral.
Nesse ambiente de concorrência total, nenhum candidato pode se eleger prefeito, governador ou presidente sem contar com o apoio de parte de todas as classes sociais. Logo, os candidatos não se representam mas representam, seja pela convicção, seja pelos compromissos assumidos, uma série de compromissos de interesses parciais de cada segmento. Aquele que consegue mais votos obtendo os compromissos parciais de cada grupo, obtém a vitória eleitoral. Mas, em sentido prático e não na ficção política, quem esse candidato representa? Bem, certo é que o representante não toma as decisões com base em suas próprias convicções, mas das concepções de um grupo de interesse, dentre os quais pode optar pela opinião pública, pelo interesse de uma corporação, pelo interesse de um ramo da economia, de um setor empresarial, de um ramo sindical, de uma determinada ONG, de interesse de um bairro ou comunidade. Assim, muitas vezes o candidato pode não concordar com sua promessa e como mandatário não concordar com a medida que toma.
Nesse contexto, como fica o eleitor?
Naturalmente, se o candidato para ser viável precisa de todos os ramos da sociedade, ele não representa o completo anseio de nenhum segmento. Nossa percepção como eleitores, portanto, é que não há um candidato cujo perfil nos identifique por completo. Nossa primeira reação é de que não há um bom candidato. Na realidade, os candidatos viáveis sempre representam a supremacia de algum segmento, logo, em princípio, algum dos candidatos tem o potencial de nosso apoio individual. A identificação do candidato para o interesse imediato do eleitor apresenta dificuldades na medida em que as campanhas eleitorais passam a ser administradas não por políticos de convicção clara, mas por profissionais de propaganda que tornam o perfil do candidato asséptico e igual aos demais, optando pelas propostas que ocultam a tendência do candidato e, aparentemente, contemplam o anseio geral. O candidato passa a falar o que a maioria deseja ouvir e não o que realmente defende. Daí não se estranhar que todo político, independentemente do partido, tem como prioridades a educação, a saúde e a segurança. A propaganda aumenta a falsa sensação de que todo político é igual. Assim, votar num ou noutro candidato parece ser um indiferente, o que não é verdade.
Só pelo fato de haver a predominância de algum interesse em uma candidatura, já se afasta a possibilidade de candidatos "iguais". Apesar das maquiagens marqueteiras, o próprio pleito eleitoral exige que haja alguma diferenciação entre os candidatos em algum momento da campanha. Claro que o ideal seria o partido verificar a necessidade geral e escolher dentre seus quadros aquele que representa o anseio popular. Não é a prática dos partidos. Geralmente, o líder partidário, independentemente de ter anseios similares ao da coletividade, impõe-se e tenta a aceitação popular pelos compromissos assumidos, prometendo o que contente a qualquer interlocutor.
O eleitor racional deve tentar furar o efeito propagandístico e ter em mente o que é importante para si e o que considera ruim para si ou para a sociedade como um todo. Logo, a escolha de um candidato na democracia de sufrágio universal se dá por exclusão. Deve-se excluir os candidatos que representam algo que, na concepção do eleitor, seja ruim. Dentre os demais candidatos, escolher aquele que tenha opiniões consistentes sobre o tema que o interessado ache fundamental. Em caso de opiniões similares entre mais de um candidato, entram fatores como opiniões sobre outros temas relevantes, chance de vitória e empatia com o candidato.
Logo, improvável que haja um candidato que tenha ampla aceitação e contente a todos, pois sempre representará um interesse em detrimento de outros. Então, diante do quadro acima, a sensação da necessidade de escolher o candidato "menos pior" será uma constante na democracia de sufrágio universal.

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