A REPERCUSSÃO DO CONHECIMENTO
Encontramos uma espécie de
revisionismo histórico em que fatos são diminuídos de importância, a história
oficial é tida por incompleta e parcial e novidades são incluídas no mundo como
se fossem relevantes.
Muitos temas têm sido
revisitados, mas vamos destacar alguns.
Na história oficial, quem
descobriu a América foi Cristóvão Colombo, quem descobriu o Brasil foi Pedro Álvares
Cabral e quem descobriu a Austrália foram os holandeses.
Muitas teorias surgiram, algumas
baseadas em fatos, outras em indícios. Os autores que enaltecem o contato dos
povos pré-colombinaos com outras culturas do Velho Mundo são chamados de
difusionistas.
Já foi provado que um grupo de viquingues
(em português) liderados por Leif Ericson montou uma colônia na Groenlândia e,
a partir daí, chegou ao atual Canadá, em Terra Nova, por volta do ano 1000 d.
C.. Há um parque nacional com os restos do assentamento viquingue em solo
canadense reconhecido como patrimônio da Humanidade pela Unesco (L'Anse aux Meadows).
Outra teoria é de Gavin Menzies
que se ocupa das viagens da frota real de Zeng He. O Almirante chinês construiu
e coordenou uma frota de grandes navios antes de um comportamento isolacionista
chinês. Segundo o autor, a frota se incumbiu de trazer líderes de todo o mundo
conhecido pelos chineses para a inauguração da cidade proibida em Pequim.
Paralelamente ao objetivo evidente, outro ponto era buscado pelos chineses, a
navegação em mares do sul e a descoberta do que fosse possível sobre o mundo.
Os navios eram chamados juncos. Segundo o autor inglês, o capitão Zhou Man da
grande frota de Zeng He, por volta de 1423, teria saído das Filipinas e chegado
à costa do Pacífico da América. Aponta como principal prova a existência de destroços
de um junco na saída do Rio Sacramento nas imediações de São Francisco, na
Califórnia (1421, p. 217) e de um artigo de membro do governo californiano do
Século XIX sobre vestígios de língua chinesa no vocabulário indígena local.
Há teorias sobre uma vinda de
navegantes árabes, cartagineses, irlandeses (ceutas).
Mas isso desmerece a viagem de
Colombo?
Quanto ao Brasil, há notícias e
fatos de portugueses e espanhóis que teriam passado na costa brasileira antes
de Cabral. Uma interessante matéria jornalística na Revista Aventuras na
História faz um destaque do livro “A Construção do Brasil” de Jorge Couto.
Segundo contam as obras, Duarte Pacheco
Pereira, navegador português, fez uma expedição secreta para o Rei de Portugal
e teria passado pela costa brasileira e entrado no Rio Amazonas em novembro de 1498
(parte espanhola do Tratado de Tordesilhas). Vicente Yañes Pinzón teria passado pelo Brasil
em uma expedição privada e teria aportado ou em Cabo de Santo Agostinho (Pernambuco)
ou na Ponta de Mucuripe (Ceará) em 26 de janeiro de 1500. O primo de Pinzón,
Diego Lepe, teria navegado na costa brasileira em fevereiro de 1500. Já Cabral
aportou na Bahia em 22 de abril de 1500. Segundo os autores a razão de não haver alarde
por parte dos espanhóis e portugueses seria o fato de indefinições quanto à
aplicação do Tratado de Tordesilhas.
Isso tira de Cabral a importância
do descobrimento?
Segundo a história oficial, o
holandês Willen Janszoon descobriu a
Austrália (Os grandes Exploradores, p. 141), terra posteriormente reclamada
pelo Capitão James Cook para o Império Britânico. No livro “O Descobrimento da Austrália pelos
Portuguezes em 1601”, o autor prova que os holandeses tinham um mapa
secreto com inscrições com palavras em fins nasais, como o acento til do português.
Tal mapa se encontrava no Museu Britânico em Londres. Relata o autor que, consultando
outras fontes, portugueses teriam se perdido no mar e alcançado, durante uma
tempestade, uma grande terra muito ao sul do Timor que chamaram de Terra do
Ouro, o que seria registrado no período do Vice Rei Português para as Índias “Dentro
e Além do Ganges”, D. Francisco da Gama (posição 388 e seguintes do e-book)
pelo cosmógrafo Manuel Godinho de Eredia (posição 385 do e-book). As viagens
holandesas e inglesas deveriam ser reduzidas na história?
O que são as descobertas? São um
conhecimento novo trazido aos povos europeus por aventureiros com bagagem intelectual
(tecnologia em navegação) que se lançaram a navegar com o apoio das nações que
representavam. As descobertas foram fatos relevantes para ocupação e colonização
das novas terras (perspectiva europeia).
O conhecimento relevante é aquele
que tem repercussão. Do que adianta ter conhecimento e mantê-lo guardado para
si? O conhecimento que se torna tecnologia é aquele que tem repercussão.
Por acaso os brasileiros falam espanhol?
A América é nórdica ou chinesa? Os australianos falam português? Não. Cada povo
europeu fez sua descoberta e passou a dar repercussão ao novo conhecimento ou tecnologia.
Iniciaram a colonização e passaram a incluir as novas terras no comércio
daquele tempo. Não é por acaso que os idiomas falados predominantemente na
América são espanhol, português, inglês, francês e holandês. Foram os idiomas
dos principais povos que deram consequência aos seus conhecimentos.
Em que pese ser divertido ter uma
surpreendente cultura de almanaque, do estilo de quem foi o primeiro
estrangeiro ou não nativo a pisar em terras americanas ou australianas, a história nos
traz uma grande lição: o conhecimento relevante é aquele ao qual foi
dada repercussão, que se transformou em tecnologia. A história oficial não
é falsa, é a seleção dos fatos
relevantes para a construção da sociedade atual.
Por isso, mais do que pensar, devemos pôr nosso pensamento em prática.
Bibliografia e sugestão de
consulta:
ARAUJO, Tarso. Os Descobrimentos do Brasil, 26-35 in Aventuras na História, Edição 103, São
Paulo: Editora Abril, fevereiro de 2012.
FARIA, Aírton de. História do Ceará: Dos Índios à Geração Cambeba. Fortaleza: Tropical, 1997, p. 15.
FARIA, Aírton de. História do Ceará: Dos Índios à Geração Cambeba. Fortaleza: Tropical, 1997, p. 15.
HENRY MAJOR, Richard. O Descobrimento da Austrália pelos
Portuguezes em 1601. Tradução de D. José de Lacerda, Lisboa: Typographia da
Academia de Lisboa, 1863, disponível em e-book, Kindle.
Como os Portugeses Descobriarm a Austrália, https://youtu.be/8_dr4Z5nAbc , consultado em 16/08/2023.
MENZIES, Gavin. 1421: O Ano em que a China Descobriu o Mundo,
tradução de Ruy Jungmann, Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2006.
NOGUEIRA, Pablo. Que Colombo que Nada, 24-29 in Galileu Especial: Os Segredos da
História, Edição Especial n. 4, [Rio de Janeiro]: Globo, novembro de 2003.
Os Grande Exploradores: De Cristóvão Colombo à Conquista do Continente
Africano, vol. 2, São Paulo: Larousse do Brasil, 2009.
Página eletrônica do parque L'Anse aux Meadows, http://www.pc.gc.ca/eng/lhn-nhs/nl/meadows/index.aspx,
consultada em 27/08/2016.
Página eletrônica da Unesco, http://whc.unesco.org/en/list/4, consultada
em 27/08/2016.
Interessante notar que os cearenses têm a convicção da passagem de Pinzon em Fortaleza, ao lado do bairro de Mucuripe, há um bairro chamado Vicente Pinzon.
ResponderExcluirJá em Cabo de Santo Agostinho, os projetos de estudos históricos se chama Projeto Pinzon - http://www.cabo.pe.gov.br/index.php/estudantes-aprendem-sobre-a-historia-do-cabo-com-projeto-pinzon/. Consultado em 28/08/2016.