MUITO ANTES DA SABESP

Na exploração do cotidiano da cidade de São Paulo, suas origens e monumentos, encontramos na Praça das Guianas uma bela estátua ao lado da Avenida 9 de Julho. Nitidamente, há uma índia nua com uma moringa na cabeça. Apesar da beleza da escultura, aparentemente, a obra de arte fica deslocada num ambiente urbano sofisticado e requintado da região dos Jardins. Como veremos, a obra marca um dado geográfico e homenageia uma atividade extinta pela metodologia superada que passa despercebida pelos transeuntes da inquieta cidade.

A atual Avenida 9 de Julho está situada acima de um rio canalizado. Segundo a maquete histórica da fundação de São Paulo, que está no Museu Anchieta, no Pateo do Collegio, no centro da cidade de São Paulo, o rio abaixo da Avenida 9 de Julho, que abastecia de água uma parte dos moradores da cidade antiga, era o Rio Saracura.

Num período em que não existia água encanada era preciso buscar água para abastecer as casas. De início, na época da escravidão, quem exercia essa função em São Paulo eram as escravas índias. Curioso é que se pode encontrar referências desse tempo num livro popular na atualidade, "São Paulo: a Capital da Solidão" de Roberto Pompeu de Toledo, que recomendo a leitura e destaco trecho pertinente ao tema, relatando documentos da preocupação da Câmara de São Paulo com a continuidade dos serviços à população: "Devia-se deixar em paz as índias encarregadas do serviço de buscar água" (Toledo, 2012, p.174).

Posteriormente, com a inauguração dos chafarizes públicos, surgiu a profissão de agueiro, pessoas que iam buscar água para vender para os moradores. Nesse sentido:
E assim surge uma nova classe de comerciantes, os agueiros, que com carros pipas, puxados a tração animal, recolhiam as águas de chafarizes, fontes, bicas ou mesmo dos rios e a entregavam diretamente nas residências. (Carvalho, consultado em 20/10/2018)

Isso durou até a modernização da cidade e início da água tratada e encanada.

Mais uma vez, encontramos uma obra de arte que homenageia o passado ao lado do local em que se encontrava um dos rios que abastecia a cidade em local inusitadamente coerente com o local de desempenho da atividade.



A estátua foi feita em 1942 pela artista alemã Charis Brandt.

Bibliografia e referências:

CARVALHO, Fabíola Araújo de. Caminho das Águas: A Água na Cidade de São Paulo in http://www.belasartes.br/revistabelasartes/downloads/artigos/13/caminho-das-aguas-a-agua-na-cidade-de-sao-paulo, consultado em 20 de outubro de 2018.

Página do Museu Anchieta, https://www.pateodocollegio.com.br/museu-anchieta/, consultado em 20 de outubro de 2018.

Página Monumentos de São Paulo, http://www.monumentos.art.br/monumento/mulher_nua, con-sultado em 20 de outubro de 2018.

TOLEDO, Roberto Pompeu de. A Capital da Solidão: Uma História de São Paulo das origens a 1900, Rio de Janeiro, Objetiva, 2012.

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