POR QUE LAMENTAMOS A SAÍDA DA INGLATERRA DA UNIÃO EUROPEIA?




Há uma grande sensibilização e susto na decisão dos ingleses de sair da União Europeia. Mas, qual a causa de nosso lamento? Vício da atualidade é tentar fazer leituras de fatos sem entender o início da discussão ou simplificar as discussões com vistos de permanência, bolsas de valores e composição de times de futebol.
Após o final da Segunda Guerra Mundial tentou-se fazer a leitura crítica das causas da guerra. Uma delas era o problema econômico-territorial da região da Ausácia-Lorena. Unidos a outros países da Bacia do Rio Reno, a leitura de Alemães e Franceses foi excelente! E se ambos os países compartilhassem as vantagens de ter a região! Surgiram os acordos de integração econômica iniciada pela Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. A ideia da integração foi tendo sucesso e foi-se ampliando a fórmula de sucesso criando a Comunidade Econômica Europeia e depois a União Europeia. O maior ganho da União Europeia é trazer para o âmbito interno as decisões econômicas considerando as visões de todos os interessados, assim, as respostas passam a ser complexas, mas as decisões não prejudicam um ou significam a supremacia de outro. A ideia, portanto, é evitar o conflito de interesses que pode levar a futuras guerras.
A inteligência europeia não parou aí. Outra causa de regimes totalitários é a exploração da insatisfação de áreas atrasadas em meio a países ricos, além da construção de mitos de recusa e repúdio a características estereotipadas de outros povos. A solução europeia foi a criação de programas de atendimento às regiões mais atrasadas, evitando o crescimento da insatisfação e marginalização interna. Associado a criação de teorias nacionais racistas está a falta de convívio, constroem-se visões negativamente idealizadas em contraste com pessoas reais, tão humanas quanto do inventor. Ora, se é dada a liberdade de trânsito entre pessoas de várias nacionalidades dentro do bloco, há o convívio que estimula a tolerância. 
O sucesso e a prosperidade europeias fez diminuir a natalidade e aumentar a idade dos seus nativos. O resultado foi a falta de mão de obra. A inteligência europeia estendeu a solução interna para a solução externa. Deixam instalar-se os imigrantes nas áreas mais ricas e resolve-se o problema da falta de mão de obra.
Todos ganharam e enriqueceram até o limite do que as primeiras soluções podiam dar. Porém, como toda política, ela tem limites. O que fazer quando se para de crescer e as áreas mais pobres não conseguem ultrapassar os limites dos incentivos? Essa solução é buscada por todos os países, todas as federações e todos os blocos econômicos. 
Uma solução é aumentar a solidariedade – tolerar a entrada de mais imigrantes e aumentar programas de desenvolvimento (cobrando compromisso e resultado, naturalmente). Outra solução é negar que o problema seja seu e negar contribuir com o todo. É a segunda solução a adotada pela Inglaterra.
A Inglaterra resolveu romper com a solidariedade e deseja trilhar linhas próprias de desenvolvimento. Isso permite ampliar objetivos de soluções de vencedores, em que seja plenamente vencedor em face de derrubar seus competidores. A solução local leva à potencialização de conflitos de interesses futuros.
Falta de solidariedade e conflito de interesses podem levar a novos conflitos (inclusive militares), a longo prazo). É por isso que o mundo lamenta a saída da Inglaterra da União Europeia.

Comentários

  1. Fabio,

    Muito bem observado por você a falta de solidariedade como uma das premissas das indesejáveis (na minha opinião) consequências futuras.

    Eu acrescentaria ainda que nossa realidade atual, infelizmente, reflete um comportamento exageradamente individualista, que se verifica em simples mudanças de hábitos, como os relacionamentos "virtuais", a descartabilidade de tudo (quase nada mais se conserta, e quase tudo se substitui, inclusive as pessoas), mas, no caso do Reino unido, me parece que o "ego inglês" tem conotações históricas, observe-se a mão de direção adotada no seu trânsito até hoje, a manutenção de uma monarquia decorativa e da "House of Lords", que mais parecem peças de museu, que insistem em conviver com uma modernidade da qual ninguém escapa, quero dizer com isso que o ego britânico não tem medida.

    Resta saber o quão autossuficiente algum Estado (em estrito senso) pode ser atualmente, ou assim manter-se, sem se aliar a outros, e assim abandonar um bloco econômico para formar "outros blocos econômicos velados e segregadores", enfim, "God save the Queen".

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  2. Interessante que saiu no caderno do The New York Times na Folha de São Paulo uma avaliação similar à minha escrita por Jim Yardley, Alison Smale, Jane Perlez e Ben Hubart em artigo entitulado Reino Unido Abala Ordem Pós Guerra - Sábado, 2 de julho de 2016.

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